Computador de voo E6-B: Celebrando 77 anos


Muitos acreditam em se tratar de um equipamento eletrônico embarcado no cockpit de aeronaves, mas não é nada disso. O computador de voo é uma régua de cálculos para auxiliar a navegação aérea como cálculos de tempo, distância e velocidade, combustível gasto, consumo, autonomia, altitude, temperatura, conversões de unidades e etc.. isso na Face A, já na Face B são efetuados cáculos de vento.

Meu primeiro contato com esta por vezes complicada régua, foi logo após eu me matricular no primeiro curso que fiz em aviação, piloto privado, a poucos passos da secretaria da escola de aviação, existe a  loja onde você pode adquirir todo o material que irá necessitar para o curso.  Assim que a atendente me entregou todas as apostilas, me perguntou qual computador de voo eu iria querer, de papel plastificado ou de metal. Eu não fazia a mínima ideia do que ela estava falando, mas mesmo assim pedi o de metal, quando recebi, acho que foi paixão a primeira vista! E desde então eu o guardo com todo carinho e cuidado e não empresto pra ninguém!  :D

História

O computador de voo E-6B foi o resultado de diversos anos de desenvolvimento pelo tenente da Marinha americana Philip Dalton durante os anos 1930. Ele juntamente com Philip Van Horn Weems, que também era oficial da Marinha americana, inventaram, patentearam e comercializaram uma série de computadores de voo.

O primeiro computador de voo popular de Dalton foi o Modelo B, a régua de cálculo circular com correções VA (Velocidade Aerodinâmica) ou TAS (True Air Speed) e de altitude que os pilotos conhecem tão bem. Em 1936, ele colocou um diagrama double-drift no seu reverso para criar o que o  'Army Air Corps (USAAC)' dos EUA designaram como o E-1, E-1A e E-1B.

Uns dois anos mais tarde ele inventou o Mark VII, mais uma vez utilizando sua régua de cálculo Modelo B como ponto focal. Era muito popular entre os militares e as companhias aéreas. Até o navegador da pioneira da aviação Amelia Earhart , Fred Noonan usou um em seu último voo. Mas Philip Dalton sentiu que era um projeto apressado, e queria criar algo mais preciso, mais fácil de usar e capaz de lidar com velocidades de voo superiores.

Ingressos Disney

Então ele veio com o famoso arco de vento impresso em um cinto de tecido que se movia através de um botão dentro de um retângulo. Este foi o Modelo C, D e G amplamente usado pelas Forças britânicas da Commonwealth e pela Marinha americana, que depois foi copiado pelos japoneses e melhorado pelos alemães, através da invenção do dispositivo Dreieckrechner em forma de disco desenvolvido por Siegfried Knemeyer, um pouco semelhante ao atual E-6B, mas tendo a bússola indicativa na parte frontal ao invés de cálculos de triangulação de vento em tempo real a qualquer momento durante o voo.

Em 1938 o Exército americano redigiu especificações formais, e ordenou-lhe algumas mudanças, que Philip Van Horn Weems o chamou de Modelo J. As mudanças incluíram mover a marca "10" para o topo em vez do original "60". Este "E-6B" foi finalmente introduzido para o Exército em 1940,  um pouco após o ataque japonês a Pearl Harbour, fazendo com que a Força Aérea americana encomendasse 400.000 unidades, a maioria de um plástico que brilhava sob luz negra. (Os cockpits na época eram iluminados desta forma à noite), e foram amplamente utilizados durante a Segunda Guerra Mundial.

Após a morte de Dalton, Weems atualizou a E-6B e tentou chamá-lo de E-6C, E-10, e assim por diante, mas eventualmente acabou retornando ao nome original, que era tão bem conhecido por 50.000 navegadores aéreos veteranos da Força Aérea durante a 2a. Guerra Mundial. Após a patente expirar, muitos fabricantes fizeram cópias, por vezes usando o já conhecido nome de "E6-B" (note que moveram o hífen de lugar). Uma versão de alumínio foi feita pela 'The London Name Plate Mfg. Co. Ltd.' de Londres e Brighton e foi chamada de "Computer  Dead Reckoning Mk. 4A Ref. No. 6B / 2645", estampada com um símbolo militar em lojas militares do Reino Unido.

Durante a Segunda Guerra Mundial e no início dos anos 1950, a fabricante  'The London Name Plate Mfg. Co. Ltd.' produziu o modelo "Height & True Airspeed Computer Mk. IV", com o modelo de referência "6B / 345". A ferramenta fornecida para o cálculo de VA (Velocidade Aerodinâmica) ou TAS (True Air Speed) na parte frontal (Face A) e cálculos de tempo-velocidade em relação à altitude na parte traseira (Face B). Eles ainda continuaram em uso durante os anos 1960 e 1970 em várias forças aéreas europeias, como a Força Aérea Alemã, até a aviônica moderna os tornarem obsoletos.

Alguns modelos antigos prévios ao E6-B expostos no museu do Aeroclube de São Paulo


Uso atual

Atualmente o computador de voo E6-B é muito usado em cursos na formação de pilotos no Brasil e em todo o mundo, inclusive é permitido nos exames em escolas de aviação e no exame para a banca da ANAC. 


Alguns computadores de voo E6-B trazem 2 réguas, uma para baixas velocidades, mais usada durante o curso de piloto privado, e outra para altas velocidades, usado durante o curso de piloto comercial. Vide a imagem abaixo.


Já nos exames da FFA (Federal Aviation Administration) nos EUA, o aluno pode escolher entre o E6-B e a versão eletrônica como o da foto abaixo:


Os cálculos básicos da "Face A" do E6-B foram incorporados em diversos dispositivos, incluindo alguns relógios para aviadores como o Citizen Promaster Skyhawk,   Breitling Navitimer, Torgoen entre outros.


Além disso, há uma gama enorme de aplicativos para smartphones e tablets, tanto para Android como também para IOS (alguns gratuitos e outros pagos) que emulam o E6-B, como no vídeo abaixo:



O E6-B já apareceu em diversos filmes e séries de TV, uma que chamou bastante a atenção foi o Mr. Spock da famosa série Star Trek, utilizando o E6-B no espaço para calcular o tempo de impacto da nave Enterprise com um planeta, no episodio 'The Naked Time'. Como ele conseguiu essa proeza usando o E6-B, continua sendo um mistério... rsrs

Se você já fez algum curso de aviação, já sabe como ele é,  agora se pretende fazer, prepare-se porque o E6-B no início não é tão fácil como parece, em algum momento vai te deixar de cabelos em pé!  Principalmente a Face B (Face do Vento).

Mas para sua felicidade, há uma infinidade de tutoriais online em vídeo para aprender a lidar com ele detalhadamente, de gratuitos a pagos. Abaixo há três pequenos exemplos em vídeo para a Face B.

1º CASO - PLANEJAMENTO PV e VS


2º CASO - PLANEJAMENTO RV e VS


3º CASO - PLANEJAMENTO DV e VV


Bons voos!

Imagens: Todas as imagens neste artigo/postagem são de autoria d Riscando os Céus.